Responsabilidade Social: conheça o trabalho da Childhood Brasil, apoiada pela Cartos, no enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes
Estima-se que a cada uma hora quatro crianças ou adolescentes sejam vítimas de violência sexual. E é para enfrentar essa realidade que a Childhood Brasil, instituição apoiada pela Cartos Social, existe.
O tabu e a desinformação são ainda empecilhos para o trabalho da Childhood Brasil avançar. A organização foi criada em 1999, pela Rainha Silvia, da Suécia, fundada simultaneamente com a World Childhood Foundation na Suécia.
O objetivo da organização é proteger crianças e adolescentes brasileiras do abuso e da exploração sexual. Por realizar um trabalho de extrema importância para a sociedade, a organização é apoiada financeiramente pela Cartos, por meio da Cartos Social. Além da Childhood Brasil, a Cartos também apoia a Operação Sorriso. As duas organizações têm como foco a transformação positiva de centenas de vidas e essa preocupação está totalmente em sintonia com o propósito da Cartos.
Por meio de estudos, pesquisas e trabalhos in loco, a Childhood Brasil faz um trabalho incansável para prevenir que crianças e adolescentes sejam vítimas da violência sexual. De acordo com o mapeamento do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), o tráfico de pessoas a cada ano é responsável por vitimizar 2 milhões de pessoas e movimentar 32 bilhões de dólares. Entre as razões para o tráfico humano, em primeiro lugar está a exploração sexual. Neste sentido, o trabalho da Childhood Brasil se faz extremamente importante e necessário.
O “Out of the Shadows Index” (Índice Fora das Sombras), criado pelo The Economist Intelligence Unit, com o apoio da Childhood USA e da Oak Foundation, revelou a resposta das empresas e da sociedade ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes em 60 países, o Brasil foi rankeado na 13ª posição. A conclusão do estudo foi de que esse tipo de violência acontece em todas as nações, independentemente da posição econômica ou qualidade de vida das pessoas.
Um exemplo dos programas desenvolvidos, é o Mapear, projeto em parceria com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) para levantar o número de pontos vulneráveis de exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias federais. A parceria com a PRF se dá por meio do Programa Na Mão Certa, uma iniciativa da Childhood Brasil para responder ao compromisso voluntário proposto pelo Pacto Empresarial contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Brasileiras.
Desde o lançamento do Programa Na Mão Certa em 2006 mais de 2 mil empresas e entidades empresariais se tornaram signatárias desse Pacto. A principal estratégia é sensibilizar os caminhoneiros para atuarem como agentes de proteção dos direitos de crianças e adolescentes, com foco no enfrentamento da exploração sexual nas estradas.
Confira mais sobre o importante trabalho realizado pela Childhood Brasil apresentado por Heloisa Ribeiro, consultora responsável pelas parcerias estratégicas da organização.
1. Qual a principal dificuldade enfrentada pela Childhood Brasil hoje no Brasil?
Heloisa Ribeiro - A Covid-19 vem afetando todo o mundo desde 2020 e trouxe reflexos sociais e econômicos que têm sido extremamente prejudiciais para crianças e adolescentes, que ficaram expostas a situações ainda mais vulneráveis. Segundo informação contida no relatório da organização não governamental (ONG) World Vision e publicada pela Agencia Brasil (agenciabrasil.ecd.gov.br), projeções apontam um aumento de até 32% da violência contra meninos e meninas durante a pandemia. Daí, a importância de dar visibilidade ao assunto e mobilizar empresas, governo e sociedade civil para apoiarem essa causa. Atuamos no enfrentamento da violação dos direitos humanos de crianças e adolescentes, mais especificamente do abuso e exploração sexual, e, por isso, buscamos parcerias para desenvolver soluções e estratégias com o objetivo de diminuir cada vez mais o problema por meio da informação e da mobilização.
2. Como tem sido manter o projeto nestes tempos de pandemia?
Heloisa Ribeiro - Tivemos que reinventar nossa atuação, com o trabalho em home office, oficinas virtuais e reuniões de planejamento on-line. No entanto, nossa atuação digital ganhou força. Além de eventos e seminários em plataformas virtuais, acreditamos que nossa participação em lives conseguiu trazer muita luz ao problema para diferentes públicos em curto espaço de tempo, levando informação e orientação à população em geral.
3. O preconceito, o medo e o tabu das pessoas de discutirem o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes ainda é um fator limitante para o trabalho da Childhood Brasil?
Heloisa Ribeiro - Ainda é um tabu falar de violência sexual contra crianças e adolescentes. Mas, acreditamos que nosso papel como organização, que atua nessa causa há mais de 20 anos, é jogar luz e levar o assunto para a ‘rua’. É preciso falar do que está acontecendo, orientar pais, responsáveis, cuidadores e as próprias crianças e adolescentes. Segundo levantamento das denúncias no Disque 100, a cada 15 minutos uma criança ou adolescente é vítima de violência sexual no Brasil.
4. A pandemia teve algum impacto nesse cenário de abuso e exploração sexual de crianças no país?
Heloisa Ribeiro - Estamos convivendo com dois grandes riscos. O primeiro está relacionado com a doença em si e o outro com a exposição de crianças e adolescentes durante o período de confinamento social a situações de vulnerabilidade. Interrupções na escola, restrições de movimento, apesar de necessárias, estão mudando a rotina e o cotidiano de crianças e adolescentes. Uma diminuição ou perda do contato com adultos protetores, o aumento significativo no tempo que passam on-line, novas formas de estresse das famílias ou cuidadores que também precisaram se adaptar à nova rotina, podem levar ao aumento da violência doméstica, aliciamento (contato através de meios digitais com crianças e adolescentes para fins sexuais) e a uma maior disseminação de material sexual envolvendo meninas e meninos no ambiente digital.
5. O que fazer nessa situação?
Heloisa Ribeiro - É fundamental que adultos estejam mais presentes nas atividades cotidianas de crianças e adolescentes sob sua responsabilidade, orientando-os e mostrando que a maioria das regras que se aplicam na vida real, com relação à proteção e à segurança, também valem para o ambiente digital. Criar um ambiente de diálogo, aberto e seguro, com crianças e adolescentes é o primeiro passo, pois o abuso sexual ocorre, na maioria das vezes, sob um pacto de silêncio.
6. Há pesquisas que mostram estreita relação entre o tráfico de pessoas e a exploração sexual. De que forma se relacionam e isso se aplica também a crianças e adolescentes?
Heloisa Ribeiro – Sim, o tráfico para fins de exploração sexual é a forma mais detectada de tráfico a nível mundial. Precisamos ficar atentos sobretudo nas estradas brasileiras, e sempre denunciar suspeitas de violações de direitos humanos. Na última edição do Mapear (2019/2020), por exemplo, o projeto em parceria com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), identificou um total de 3.651 pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias federais do Brasil. O mapeamento abrangeu em torno de 71 mil quilômetros de rodovias federais, distribuídos pelos 26 estados e o Distrito Federal. É sabido que a exploração sexual de crianças e adolescentes nas estradas pode estar relacionada a outros tipos de crimes, como o roubo de carga, tráfico de pessoas, armas, animais silvestres e o tráfico de drogas. Portanto, o problema também faz parte das questões de gerenciamento de risco inerentes ao negócio do transporte rodoviário de cargas no país.
7. Como as pessoas devem proceder para denunciar casos de exploração sexual de crianças e adolescentes?
Heloisa Ribeiro - No caso de denúncia por um adulto, a orientação é denunciar qualquer suspeita de que uma criança ou adolescente esteja sendo vítima de violências. Os canais mais adequados são: o Disque 100, 180, o APP Direitos Humanos BR, WhatsApp (61) 99656-5008 e a delegacia on-line. Agora, se presenciar ou testemunhar uma situação de violência contra criança ou adolescente, a orientação é ligar diretamente para Polícia Militar (190) ou nas rodovias federais para PRF (191). Se for uma criança ou adolescente, vítima de violência, essa deve pedir por socorro, seja com um adulto de confiança ou denunciando pelos canais já citados, ou pelo APP DiCa – Direitos da Criança e do Adolescente, que estará disponível a partir deste mês maio/2021 em diferentes plataformas, com a ideia de ser um espaço seguro, voltado a meninos e meninas, para acesso a informações sobre direitos, identificação de diferentes tipos de violência e na busca por ajuda no Disque 100. A criança e o adolescente devem ser informados que não são os culpados. O adulto é que tem o dever de protegê-los e, a violência só terá a chance de cessar, quando for relatado o que está acontecendo.
8. Sinta-se à vontade para deixar algum recado ou mensagem especial.
Heloisa Ribeiro - A informação é uma das formas mais eficazes de prevenir e enfrentar o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes. A violência, como já disse, só vai cessar quando for denunciada. Por isso, o diálogo com meninas e meninos deve acontecer desde sempre, já que a violência sexual acontece em todas as faixas etárias. Pais e responsáveis devem redobrar a atenção para evitar essas situações. Também é muito importante conhecer os canais de denúncia. E, caso percebam algum comportamento diferente, devem procurar a ajuda de um especialista. Em nosso site apresentamos 10 maneiras de identificar possíveis sinais de abuso sexual contra crianças e adolescentes.
Saiba mais sobre as instituições apoiadas pela Cartos, por meio do projeto Cartos Social.